Talvez eu e você nunca conversamos na vida e nem conversaremos... ou então de repente conversamos a vida toda e você de alguma forma encontrou minha anotação perdida por aí! De qualquer forma, preciso compartilhar isso com alguém, ou só com as linhas que escrevo mesmo.
Mas eu não me importo que você leia ok? É sério, de verdade, pode ficar a vontade para ler, eu não me sentiria desconfortável nem nada por confidenciar algo meu, só... por favor, não pense que sou maluca ou algo assim, é meu único pedido.
Caso você logo no meio comece a cogitar pensar sobre isso, eu ficarei bem triste.
Eu me chamo Kelly e sou fascinada por fenômenos naturais, tipo, fascinada mesmo! Eu amo observar o céu por horas e ficar esperando algo diferente acontecer. Ok, isso pode parecer loucura, muitos que me conhecem acham isso... Ou melhor, "conhecem" vamos dizer assim, porque se me conhecessem a fundo, me entenderiam, creio eu.
E se fizessem o mesmo, veriam o quão fascinante é esse enorme lençol azul acima de nós que infelizmente poucos dão importância.
Desde os 6 anos, quando vi o primeiro ovni, pedi uma filmadora e um telescópio de alto alcance de natal para os meus pais. É claro que eles não me deram, pois dinheiro não nasce em árvore, e precisávamos comer, foi o que eles disseram. Mas nessa pequena cidade à beira mar em que vivo, existia um anjo luminoso, era assim que eu a chamava, o nome dela era Lyra.
Lyra era o tipo de menina com alto poder aquisitivo, porém uma pessoa muito gentil, que não se importava com sua alta quantia de dinheiro, ou ajudar pessoas necessitadas, muito menos se recusava a falar com elas. É claro que eu não passava tanta necessidade assim, tinha o suficiente para comer, estudar, comprar boas roupas e uma viagenzinha ou outra de vez em quando, mas também existia vezes em que a situação apertava, o que é normal para muitos cidadãos hoje em dia e também daquela época. Mas minha real necessidade era um telescópio!
Lyra e eu nos conhecemos de uma forma bem estranha, eu acho, mas bem legal! Era o segundo dia da lua cheia, não lembro em que data exatamente, mas isso lembro bem, costumo decorar momentos importantes por conta das fases da lua, mas isso não vem ao caso agora. Eu e minha mãe estávamos voltando caminhando da escola para a casa, deveria ser umas seis horas da tarde, pois o sol começava a se pôr, e o céu estava daquela forma tão bonita que eu amava, tons de laranja que se misturavam aos azuis acinzentados do fim de tarde e a lua surgindo timidamente no céu enquanto o sol com seu forte brilho se despedia no horizonte. Nisso eu e mamãe passamos em frente a um trailer de cachorro quente, e como toda "boa "criança arteira, com fome e cansada, tive a "brilhante" ideia de pedir um.
— Kelly, você sabe que essas porcarias da rua podem fazer mal ao estômago. Temos muita comida em casa, não se preocupe!
— Mas mamãe, eu não quero, eu quero um cachorro quente!
— Você sabe o que isso vai causar a você depois?
— Satisfação! — Sim, eu podia ser uma criança bem espertinha quando queria.
— E uma enorme dor de barriga, afinal —
— Afinal todos os lanches "de rua" são assim na sua visão, não é? — disse uma moça muito elegante que passava perto de nós.
Minha mãe ficou espantada quando viu uma mulher desconhecida contrariá-la. Ela detestava que alguém a contrariasse, ainda mais uma pessoa totalmente desconhecida. Mas antes que ela pudesse abrir a boca para responder a mulher continuou:
— Não se preocupe, tudo o que compramos é de qualidade, a sua filha não vai ter nenhum tipo de alergia ou dor de barriga. Meu marido e eu estamos nisso há anos!
Minha mãe nesse momento ficou sem fala, ela não imaginava que aquela moça tão elegante fosse dona de um trailer tão pequeno. Nisso consegui convencê-la sem ao menos dizer uma palavra. Logo quando a lua já estava um pouco mais evidente, uma menininha de cabelos claríssimos como um dente de leão me chamou em um canto.
— Você gosta muito da lua! — disse ela com um sorriso espontâneo e leve. Não foi uma pergunta e sim uma afirmação. Como ela sabia? Até hoje me pergunto isso.
— É?... É! — respondi um tanto espantada pela sua afirmação como se ela pudesse ler minha alma.
— Já viu como ela realmente é? De pertinho? — me questionava com um olhar curioso.
— Como? — Senti minha curiosidade crescer.
— Me segue! — ela mal terminou a frase e eu já estava a seguindo adentrando em um quintal enorme, com muitas árvores e uma piscina enorme também.
Quando entramos na casa e subimos todas aquelas escadas que pareciam não ter fim, chegamos a uma área aberta com um enorme telescópio apontado exatamente para a direção em que a lua se encontrava no momento.
— Essa é a melhor hora! — ela disse com entusiasmo. — Suba aqui! — ela apontou um banquinho em frente ao telescópio.
E foi naquele dia que eu tive uma das visões mais bonitas da minha vida e ganhei uma amiga. Mas eu não sabia que o melhor de todos os fenômenos ainda estava por vir.
*´¨`*•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•*
Tínhamos 14 anos. Eu e Lyra fazíamos aniversário em datas muito próximas e ela era simplesmente fascinada por arco-íris, o que era ironia por conta do significado de seu nome. Ela sabia de cor cada tipo existente. Arco-íris vermelho, arco-íris roda cor, arco-íris nas nuvens, arco-íris lunar… enfim. Ela tinha alguns quadros com fotos deles em seu quarto, muito bem feitas que ela mesma tirou, havia feito sete mechas coloridas em seu cabelo, bem fininhas e seu desenho animado favorito era My Little Pony.
No aniversário dela, sempre procurávamos saber que dia choveria que o tempo não estivesse totalmente fechado e qual o melhor lugar para vermos um aparecer, pois esse era seu melhor presente. Era como uma tradição, e se não acontecia naquele ano, deixávamos para o próximo. Porém ela teve tanta sorte que conseguiu isso em três aniversários seguidos!
Naquele ano especificamente estávamos no início do ensino médio, e seu aniversário já havia passado há algumas semanas. Porém, sua família mudaria em breve por conta do trabalho de seu pai, e como era muito longe, nos veríamos muito menos quanto gostaríamos. Talvez até uma vez por ano e queríamos completar a tradição antes que ela fosse embora.
Estávamos em Treeland Sea, o nosso lugar favorito de toda a cidade. Lá era um espaço enorme cheio de árvores, pequenas colinas onde havia cursos e eventos para as pessoas e onde fazíamos nosso trabalho voluntário todos os sábados. Lá também havia o melhor lugar para observar todos fenômenos naturais do céu, inclusive arco-íris.
— Faltam duas horas para eu ir, e hoje é certo que choveria e teria sol! Eu queria muuito ter completado a tradição desse ano, poxa… — seus olhos mostravam nitidamente a decepção que ela sentia naquele momento.
— Ei, não é como se nunca mais fossemos nos ver! — eu a animei— Quem sabe você pode vir para cá no próximo ano no seu aniversário?
— E se eu não puder, Ly?... — ela suspirou.
— Daremos um jeito, a gente sempre consegue! — Dei um tapinha em suas costas.
— Eu quero acreditar nisso de verdade!
— Ei, se anima! Você vai para um novo ambiente, novas possibilidades, lembra? Me prometeu que não sairia com essa cara.
— Mas você não vai estar lá…
— Oh, minha pequena Fluttershy, eu vou aprender projeção astral, lembra?
— Kelly, você não existe! — ela me disse com um sorriso em sua face e em seguida me abraçou.
E as duas horas se passaram, pareciam dois minutos apenas depois de tanta conversa com muitas risadas e um bom piquenique.
— Eu vou sentir falta do Treeland… nosso lugar favorito!
— É, nosso lugar favorito… — soltei um suspiro.
— Você disse para eu me animar e agora está aí com essa cara. — ela fez uma careta,
— Tem razão, mas quando chega a hora fica mais difícil.
— Verdade e… nossa que nuvem enorme! E minha mãe já me mandou mais de 3 mensagens eu acho melhor eu ir!
— Mais de três sms é um sinal de alerta! — brinquei.
— E uma nuvem enorme e escura também é. — ela disse e rimos juntas.
— Melhor a gente ir ou vamos nos molhar!
— Sim, vamos, eu quero passar na banca ainda e ver se saiu o volume 9 de Sweetness!
— Você e seus mangás, tá bem, vamos, só espero que a gente não pegue uma chuva enorme!
— É como uma aventura né?
— Tudo é uma aventura pra você Lyra! — ri novamente e seguimos nosso caminho.
*´¨`*•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•*
Algumas horas mais tarde eu estava em minha casa lendo um pequeno livro sobre arco-íris. Queria aprender mais sobre eles e dar algum presente relacionado a isso já que não pudemos ver um esse ano. Foi aí que eu descobri algo chamado “prisma”.
“O prisma é utilizado para separar a luz do espectro, formando assim o arco-íris."
Era o presente perfeito para a Lyra. Poder ter seu próprio arco-íris! No momento em que pensei em ligar para ela, vi seu nome piscar várias vezes na tela do meu celular.
— Você nem vai adivinhar o que eu descobri!
— Kelly, olhe pela sua janela agora, por favor! Ou vá até seu quintal! — ela disse muito entusiasmada.
— Mas Lyra, tudo o que tem lá são nuvens bem feias se preparando para cair em nossas cabeças!
— É sério, não vai se arrepender!
Foi aí que eu vi e gostaria que minha câmera estivesse carregada no momento.. E naquela época os celulares ainda não tinham câmera infelizmente.
— Que tipo é?
— Eu não sei, eu nunca vi um igual a esse na minha vida, nem em sonho!
— Parece que…
— Está girando não é? Incrível…
— Parabéns!
— Obrigada, é o melhor presente desse ano, pena que não está aqui…
— Ei, eu estou!
— É verdade!
Quem registrou, registrou, quem teve a sorte de ver de perto nunca mais vai esquecer. Um arco-íris em espiral que fazia a volta e cobria toda a nuvem escura com suas cores e toda sua intensidade. Parecia mais de um, pois ele refletia quatro vezes, o que dava a impressão de estar girando. Foi o fenômeno mais maravilhoso que eu pude ver em toda a minha vida.
Foram poucos os que registraram aquele momento e infelizmente não há nenhuma foto publicada na internet sobre, sim eu pesquisei e não achei nada.
Depois disso, eu enviei um lindo prisma para a Lyra, que me disse que foi o melhor presente que ela ganhou em toda sua vida. Continuamos nos vendo uma vez por ano e agora com a tecnologia avançando, temos mais formas de poder se comunicar além de sms e ligações.
E mesmo que eu não tenha nenhuma foto daquele dia, ainda acredito que as melhores visões e os melhores momentos, são aqueles que ficam guardados em nossa mente e coração, mesmo que não possam ser captados por uma câmera.
A melhor câmera de todas, sem dúvida, são os nossos olhos!
Valorize o que você pode ver, mesmo que seja apenas uma vez!