Pink Bobblehead Bunny

sábado, 15 de julho de 2023

A linha tênue em seus olhos



Sugestão de música para ouvir enquanto lê: According To Plan - Augustana
É uma das músicas favoritas da protagonista.
Esse pequeno conto é baseado em personagens de um livro meu que talvez um dia eu desenvolva 
e publique quem sabe? Achei a ficha de personagem deles esses dias em um dos meus cadernos
e pensei, por que não?
Quero agradecer novamente minha melhor amiga e incentivadora, que deu a ideia do 
título e assim pude desenvolver esse conto baseado no título que ela me deu!
Obrigada por esse presente miga <3
Espero que gostem, boa leitura!
Caso não conhecia meu blog, seja bem vindo ou bem vinda! Há outros contos aqui para você explorar!
Bem, vamos a história?


— Feliz Ano Novo! — ele gritou, segurando uma garrafa enquanto a levantava para o alto.
Era Ano Novo e tinha chovido bastante, ainda havia poças de água nas ruas. Caminhávamos por uma rua arborizada, pouco depois da meia-noite.
É engraçado como chegamos até aqui. Normalmente, muitas pessoas nesse dia estariam em suas casas comemorando com suas famílias, comendo bastante e brindando com taças de espumante, beijando a primeira pessoa que encontrassem ou simplesmente assistindo a bola de cristal cair na Times Square.
Quem diria que para mim seria diferente.
Não, eu nunca beijei a primeira pessoa que encontrei no Ano Novo e nem mesmo assisti pessoalmente a esse evento na Times Square. No entanto, meus Anos Novos costumavam ser compostos por festas e resoluções com minha família, o que não me fazia imaginar que poderia ser diferente.
Estava muito frio, e eu podia sentir a brisa gelada congelando meus dedos e ver pequenos cristais de gelo se formando entre as folhas.
— Cara, tá muito frio! — ele disse, esfregando as mãos uma na outra para se aquecer. Você não tá com frio não?
— Estou sim. — assenti timidamente. — Mas pensei que a bebida tivesse aquecido você. — brinquei.
— Não bebi tanto a ponto de me esquentar. — sorriu ironicamente. — Na verdade, acho que bebi sim, mas agora o efeito tá passando.
Nos olhamos por um momento e depois rimos da situação.
Andamos mais um tempo e avistei um banco que não estava molhado. Minhas pernas precisavam de um pouco de descanso depois de andar por um longo período.
— Estou cansada, vou sentar um pouco.
— Esse aí não tá molhado? — ele olhou com desconfiança, estreitando os olhos para ver melhor.
— Não vejo nenhum resquício de água! — sorri confiante, dirigindo-me animadamente até o banco.
Após me sentar, envolvi meu corpo com os braços para me proteger do frio cortante. Ele se aproximou e sentou ao meu lado, exalando uma aura descontraída. Com um sorriso malicioso, ele tirou um cigarro do bolso e acendeu, soltando a fumaça no ar gelado.
— Você deveria parar de fumar, sabia? — eu disse, observando a fumaça se dissipar. — É péssimo para a saúde.
Ele deu de ombros, soltando outra nuvem de fumaça pelos lábios.
— Ah, relaxa! Não é como se eu fosse viver para sempre mesmo. Além disso, um traguinho de vez em quando não faz mal.
Balancei a cabeça, um leve sorriso surgindo em meus lábios.
— Você é tão indisciplinado, não é? Fumando, bebendo... Não se preocupa com as consequências?
— A vida é curta demais para se preocupar com essas coisas. É preciso aproveitar o momento, viver intensamente. Essa é a única maneira de realmente se sentir vivo.
— Se matar intensamente, você quer dizer? — provoquei.
— Pode ser. — ele deu de ombros, encarando o nada.
Eu o observei, meus olhos cheios de curiosidade.
— Você tem uma maneira muito diferente de enxergar o mundo. Talvez eu precise aprender um pouco dessa sua ousadia e despreocupação.
Ele deu uma risada, passando a mão pelos cabelos bagunçados.
— Quem sabe? Talvez eu possa te ensinar algumas coisas. — seus olhos agora se voltaram para mim.
— Mas, ei, não precisa mudar quem você é, tá? — ele sorriu e bagunçou meus cabelos, o que acabou me surpreendendo um pouco. Não sou muito adepta ao toque físico de outros rapazes. Aliás, de ninguém. Estou acostumada apenas com meu grupo de amigas, família e primos, então isso é um tanto estranho para mim. Mas não é ruim. Ele também não é adepto ao toque físico, pelo menos quando está bêbado, abraça os amigos e, é claro, fica com muitas garotas. Na última parte, acredito que ele seja adepto até demais, mesmo sem beber. Eu não tive coragem nem de beijar meu primeiro namoradinho do ensino fundamental, éramos mais como dois bons amigos apreciadores da natureza do que qualquer outra coisa, no máximo beijinhos no rosto e mãos dadas, até ele infelizmente se mudar. Já ele não deve nem se lembrar de qual foi a primeira pessoa que beijou.
Ok, isso é exagero, ele deve sim. Mas depois de tantas, fica um pouco complicado. Mas por que estou pensando nisso?
— Mas diz aí — ele fala, interrompendo meus pensamentos — por que você não quis passar com a sua família esse ano? Você sempre passa, não é? Ao menos foi o que me disse uma vez.
Me viro para ele, tentando encará-lo, mas a linha tênue em seus olhos me faz desviar um pouco o olhar. Há algo intrigante na forma como ele me olha. E não acredito que isso seja só comigo. É como se guardasse algo.
— Bom, eu... eu só queria mudar um pouco de ares, entende?
Sua sobrancelha arqueia um pouco, e ele faz uma expressão de desconfiança.
— Não é muito sua cara isso, Chelsea.
Rio desajeitadamente.
— Mas só vamos lembrar que estamos aqui por causa sua.
— Eu? — ele aponta para si mesmo como se estivesse ofendido. — Coloquei uma arma na sua cabeça, anãzinha? — recebo um peteleco na testa logo em seguida.
— Ai. — finjo que dói, colocando a palma da mão na testa.
— Nem doeu, vai. — ele dá um sorriso brincalhão.
— Nem se sentindo como segunda opção, ou sei lá.
— Eu nem estava pensando nisso, mas agora que você falou... — provoquei.
— Sem essa de paranoia! — ele apontava para mim, fingindo acusação.
— Você pode parecer muito sério às vezes, mas também não consegue segurar o riso! — seguro seu pulso.
— Não é minha culpa se olhar para anões de jardim me faz rir. — agora ele gargalhava.
— Mas ora, seu! — aperto seu pulso com mais força, tentando parecer furiosa, mas eu mesma começo a rir da piadinha sem graça.
— Você riu, eu sou ou não sou demais?
— Como o rei dos palhaços, com certeza!
— Vai à merda! — ele ri ainda mais.
— Desbocado! Palavras sujas também fazem mal à saúde!
— Tanto quanto o cigarro? Tô fudido em dobro então!
— Shh, cale a boca! — tapo sua boca com as duas mãos, mas quando percebo o que fiz, retiro rapidamente.
Eu não costumo fazer esse tipo de brincadeira com ninguém, por mais boba que pareça.
— Que foi? Parece que levou um susto com alguma coisa!
— N-nada, coisa minha. — minto, esfregando meus próprios braços. —Mas em uma coisa eu sei que você é ótimo! Conseguiu desviar de assunto em minutos.
— Cara, por que você quer tanto saber disso? — ele faz uma careta.
— Seus olhos dizem uma coisa, sua boca diz outra.
— Meus olhos? — ele parece surpreso. — E o que eles dizem agora, Leissler? — ele se aproxima mais do que o normal, encarando diretamente nos meus olhos.
Dou um gritinho, me afastando.
— N-não sei, o que significa isso?
Ele ri.
— É muito fácil te assustar.
— Mudando de assunto de novo!
Ele suspira e se ajeita no banco, mexendo no rótulo da garrafa em suas mãos.
— Vem cá, já que você diz que meus olhos falam outra coisa, por que não tenta adivinhar?
— Mas como eu vou adivinhar?
— Um jogo. Você tem quatro tentativas, depois é a minha vez.
— Isso é sério?
— Descontrai, vai? É só pra gente se divertir. — ele me dá um leve empurrãozinho no ombro.
— Certo, vou entrar na sua brincadeira. — sorrio com convicção.
— Deixa eu ver, hum... — coloco a mão no queixo pensativa. — Já sei, é a banda, os meninos te substituíram e colocaram outro vocalista, o que te deixou muito frustrado.
Ele ri.
— Boa, bem criativo da sua parte, mas não. Eu ficaria puto com isso, bem que eles querem, mas vão ter que me aturar, afinal, a banda é minha. — sorriu de modo convencido.
— Uau! — ri surpresa. — Convencido.
— A verdade né gata! Errou uma, faltam três.
— Eu odeio quando me chama de "gata", não sou nenhuma de suas suas ficantes. — cruzei os braços indignada.
— Eu sei, por isso é tão divertido, até porque nem gata você é.
— Como ousa!
Dei três tapas em seu pulso, o que o fez rir.
— Tô brincando. Vai logo, segunda?
— Hmmm... — o encaro ainda meio brava com a situação. — Já sei, você está aqui comigo porque adoooora tirar minha paciência.
Ele faz uma careta brincalhona.
— Errou. Eu não perderia meu valioso tempo com isso. — sorriu maliciosamente para me provocar.
— Besta!
Ele riu mais ainda.
— Ao menos uma palavrinha dez por cento suja saiu da sua boca.
Tapei minha boca no mesmo momento.
— Aiii, que coisa!
Ele continuava a rir.
— Então é porque... É porque... É porque... Você está triste com algo?
— Eu pareço triste?
— Er, não mas...
— Mas? — ele arqueou uma sobrancelha.
— Mas... Já sei! É... Algo que está te deixando profundamente irritado e angustiado? Talvez envolvendo alguém que... hum... Faz parte da sua vida?
Seu sorriso se esvaiu em segundos.
— Eu acho que já chega dessa brincadeira.
O que eu fiz?
— É sua família, amigos? Eu posso ajud-
— Não.
Seu tom de voz saiu frio, seco e cortante, tão cortante quanto o frio daquela noite.
— Eu... Eu não sabia...
Meus olhos se encheram de água no mesmo momento.
— M-me desculpe. Eu não tinha a intenção de tocar em um assunto delicado. Eu só... queria entender você melhor e estar aqui para você.
Meu coração apertou ao ver sua mudança repentina de humor. As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, e eu senti como se tivesse cometido um grande erro sem nem mesmo perceber.
Ao ver minhas lágrimas, ele fez uma expressão de espanto e seu olhar suavizou um pouco.
— Não é culpa sua, tá? Foi mal se pareceu isso. Há coisas que eu prefiro manter para mim, coisas que não consigo compartilhar facilmente. Eu não queria que você se preocupasse ou se envolvesse em algo que não pode mudar.
Ele desviou o olhar, incapaz de me encarar enquanto lutava contra suas próprias emoções. Eu queria abraçá-lo e dizer que tudo ficaria bem, mas sabia que ele precisava de espaço.
— Eu eu entendo que você tem seus motivos para não falar sobre isso agora. Só quero que saiba que estou aqui, se e quando quiser conversar. Eu me importo com você.
Ele finalmente olhou para mim novamente, seus olhos mostrando uma certa gratidão por ouvir aquilo.
— Valeu, Chelsea. Aprecio sua preocupação, de verdade. Vamos deixar assim por enquanto, tá? — ele bagunçou meus cabelos.
Assenti enxugando algumas lágrimas do meu rosto.
— Tá!
Ele aproximou uma das suas mãos do meu rosto e agora também enxugava minhas lágrimas com o polegar.
— Só para de chorar, ok? Vai estragar sua maquiagem. — ele deu um sorrisinho.
— Mas eu nem estou usando maquiagem! — falei com uma expressão curiosa.
— Eu sei boba, foi pra você rir um pouquinho. — ele apertou minha bochecha e eu sorri.
— Confesso que eu fui meio babaca ao sugerir a brincadeira e agir desse jeito. — riu sem graça. 
— Pesou o clima, né?
— É.— ri sem jeito.
— Mas ainda faltou minha vez, não vamos deixar meu mau humor besta estragar a noite.
— Vou pensar no seu caso.
— Qual ééé! Vai ficar brava comigo agora?
Fiquei em silêncio por um tempo, apenas para deixá-lo um pouquinho assustado.
— Chelsea?
Sua voz mostrava preocupação e culpa.
— Certo, vamos continuar! — sorri e seu olhar se iluminou.
— A primeira é que você tá puta comigo, triste, algo assim por eu ter sido meio rude naquela hora.
Suspirei. Que coisa, ele é bom nisso.
—Tá, você tá certo!
Seu olhar se encheu de culpa.
— Ei, desculpa tá? Não fica com isso na cabeça, foi besteira minha.
— Desculpado, continue!
— Mesmo?
— Sim! — sorri e ele sorriu aliviado.
— Bom vamos lá, segunda é que mesmo sendo uma brincadeira, você realmente tá pensando que eu não te acho "gata" — fez as aspas com os dedos — o que não é verdade, e tá triste por isso, achando que todo mundo pensa a mesma coisa, sendo que o espelho mesmo vai dizer ao contrário do que você tá pensando aí.
Ok, isso me fez corar.
— Verdade?
— Sim, né? Até parece que não conhece minhas brincadeiras.
— Ahh... É que...
— É que, é que, é que! Você sabe que é gata, quer é elogio. — provocou.
— Engraçadinho. — coloquei a língua pra fora, o que o fez rir.
— A terceira é que você tá com fome.
— Você é vidente ou minha barriga roncou? — perguntei preocupada, morreria de vergonha se isso acontecesse. E acho que ele percebeu minha expressão, pois isso o fez gargalhar.
— Naaao, mas é que como não comemos nada desde o show eu presumi isso.
— Você é bom hein? E a última, vamos ver se acerta!
— A última é a mais fácil de todas.
— É?
— É. Você tá a fim de mim.
Meu coração gelou.
Tudo gelou e eu senti que ia desmaiar.
— O... O que?
— Foi o que eu disse.
Ele parece muito sério.
Meu deus...
Eu... não esperava isso.
— V-você... Que... Que besteira tá dizendo? Por que está dizendo isso? Eu nunca... Quer dizer, isso nunca passou pela minha cabeça, você... O que deu em você?
Nessa hora ele não conseguiu ficar sério e soltou uma gargalhada alta, deixando a cabeça cair pra trás.
— Cara, é muito fácil te assustar, cê tinha que ver a sua cara.
— SEU IMBECIL! — digo aos berros enquanto ele gargalha.
— É zoeira, eu sei que isso nunca passaria pela sua mente, nem nos seus sonhos. Eu tô ligada em quem cê tá a fim. É do—
— Podemos não falar dele agora? — bufei o interrompendo.
— Nhã, que bonitinha, ficou vermelha quando falei do crush.
— Isso foi golpe baixo!
— Foi nada! Vem, vamos ver se tem algo aberto pra gente comer alguma coisa, que eu também tô morrendo de fome.
— Tá bom, engraçadinho.
— Anã!
— Aiaiai, em garoto!
Ele se levantou do banco caminhando logo à minha frente.
Nesse momento tudo havia passado. A chuva, os fogos ao longe, o vento e o que começava a borbulhar eram os meus pensamentos.
Ele realmente era bom em decifrar todos os meus segredos, toda a minha mente.
Até aqueles mais profundos.
Porém, ainda quero que ele continue achando que não é verdade.
Mas a linha tenue dos seus olhos, é ainda algo que pretendo decifrar.
De repente estou tão perdida em pensamentos que percebi que fiquei para trás.
E não o vejo hein lugar nenhum.
Onde esse garoto foi?
— Ei cade você De-
— BU!
— AHHH!
Atrás de mim, óbvio que ele ia dar um grito para me assustar, como eu fui inocente.
— SEU IMBECIL! — digo aos berros enquanto ele gargalha.
— Você é muito lenta, vamos vamos anda, anda, tô com fome. — fala me dando empurrãozinhos no ombro.
— Você é um idiota quase me mata de susto.
— Feliz ano novo Chelsea. — ele pisca e volta a andar do meu lado.
Que garoto imbecil.
Mas essa noite de ano novo foi melhor do que eu esperava.